domingo, 23 de junho de 2013

Outras Bugigangas

Em tempos de outono virando inverno, Bolô descobriu que o laptop esquenta muitíssimo depois de dias ligado numa funcionalidade-frequência absurda. Aceito o aconchego interesseiro desse gato que tem se mostrado menos cínico do que eu preciso.
Aceito os maus do século: a noite se prolonga e me engole, fecho as cortinas em pleno dia e ligo o abajur do eterno pôr do sol pintado na parede do meu quarto, tomo um comprimido para relaxar o que aparentemente não tenho o menor controle apesar de ser meu, só meu. Silêncio. Leio Tennessee Williams em voz alta, passeio por cada cômodo da casa. Separo roupas, sapatos e outras bugigangas que não se encaixam mais na regra dos seis meses. Preciso me livrar de tudo que passou e não faz mais parte: fotografias, camisetas masculinas, escovas de dente, impressões digitais, finais inventados... só não consigo me desfazer das cartas. Por essas cultivo um amor especial e doentio.
Tenho a impressão que tudo lá fora se move e aqui dentro é caixinha secreta de música.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Infinito É Aquilo Que Não Se Mede, Não Aquilo Que Dura Para Sempre

Querida Victoria do futuro,
sim, "querida". Quero que você saiba que apesar dos momentos de desespero e solidão vazia e seca, você é muito querida pelas pessoas ao seu redor. Até mesmo por pessoas que você nem imagina ou nem conhece e claro: por você mesma, acredite. Não quero que você se preocupe com pensamentos nefastos suicidas utópicos que eventualmente podem passear por sua cabeça doentia. Desde sempre sentimos isso...e olha só que bacana: se você está lendo essa carta é porque alguma coisa te salvou de se afogar em si mesma. Não sei se ainda serei uma romântica incurável, inclusive me perdoe se o que você vai ler agora vai soar extremamente brega e piegas -agora já soa- , mas hoje acho que a bóia que me puxa para dentro do bote é o amor gigante que sinto.

Espero que até aí tudo já esteja mais ou menos calmo. Ou menos caótico, aceito também... Explico: sinto que estou passando por um dos momentos mais instigantes da minha vida. Ao mesmo tempo em que me vejo explodindo de ideias e pensamentos criativos, críticos, verdadeiramente plausíveis de se discutir e validar, me sinto confusa, perdida num furacão sem saída aparente. Finalmente encontro respostas para algumas questões que abarcam minha profissão (teatro, não esqueça), o mundo ao meu redor, o jeito insuportável e imprevisível de ser de cada um (desculpe o pessimismo mas estamos no meio de uma revolução) e até arrisco dizer a política. Mas se tem um assunto que jamais poderei te ajudar e que sempre me confunde mais que tudo é justamente a tal bóia que falei lá em cima...vez ou outra tenho a impressão que ela está estrategicamente furada e não tem cola, durex ou super bonder que possa consertar.

Pode ser que você dê gargalhadas ao ler isso mas não se esqueça de pedir desculpas a sua mãe por ter culpado a pobre coitada de ser responsável pelo seu "acordar" no dia em que ela te entregou o "Uma Aprendizagem ou Livro Dos Prazeres". Tem sido sim um processo doloroso desde então. Mas graças a deus! Não é assim que se evolui? E também, quem resolveu ler esse bendito livro e continuar na busca foi você. Então, se tiver que culpar alguém, culpe-se. Tá reclamando de quê? Pelo menos você está passando por isso acompanhada de grandes poetas, músicos, artistas, sociólogos, cineastas, escritores e bruxos...se não fosse por Ela, você não conheceria nada disso!
Peça desculpas a seu pai também por todos os momentos radicais e sem filtro de discordância em que provavelmente você deveria ter pensado duas vezes. Ele sempre quis e continua querendo somente o seu bem e ele é de longe uma das pessoas mais éticas que você já conheceu. Um pouco cabeça dura...mas nem preciso dizer que essa característica é também e principalmente nossa.

Agora um conselho de amiga: não confie nunca no "random". Hoje voltando da sessão de "Antes da Meia Noite" e roubando um tempinho para caminhar na praia no fim da tarde, olha o que ele me aprontou: Lenine com "A Medida Da Paixão", Florence com "Addicted to Love", Chico com "Tanto Amar", Nina Simone com "Here Comes The Sun" e antes que eu pudesse desistir, Simon and Garfunkel (aposto que você ainda terá dificuldade de pronunciar esse nome) com "America". Ou seja, não.

Rezo para que você tenha mais paciência, porque hoje me vejo presa em armadilhas sociais: preciso ser educada e compreensiva em alguns momentos indispensáveis para não criar um mal estar mas não consigo aturar gente careta, preconceituosa, reacionária e hipócrita. Ah, quer saber? Retiro o que eu disse e ainda digo o contrário! Nunca abaixe a cabeça perto dessas pessoas, nunca. Lute por tudo que você acredita e nunca se prive de reciclar seus ideais.

Se você se tornou uma performer consagrada ou uma grande estrela de cinema, parabéns! Você alcançou seu sonho lindamente! Apenas te peço: seja genuína. Em tudo que fizer. Faça porque você acredita, porque você precisa fazer acima de tudo, porque é somente isso que te faz sentir viva. E faça com amor, muito amor sempre.
Não se esqueça de cuidar de si. Não se esqueça de cuidar dos outros. Só alimente relações com pessoas que fazem o mesmo: cuidam de si, cuidam de ti e cuidam do outro. Agradeça ao Universo pela existência, não há nada mais precioso que isso. Vida correndo solta...desgovernada. Seja selvagem! Seja liberta! Liberte o mundo inteiro ao seu redor ou pelo menos a moça da padaria de todo dia. Crie hábitos, siga uma rotina (afinal você precisa aterrar, concorda, câncer com peixes?) mas nunca, NUNCA SILENCIE O ARREPIO.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

O Estado Não Joga Junto E Os Pássaros Que Continuam Cantando Apesar De

O Estado não joga junto: apenas desconforto e repressão. Ele abomina qualquer "click". Sentiu que você tomou consciência, ele corta, ele extermina se preciso. E mente justificando: "é por uma causa maior". A segurança só é garantida no "disperso", nunca no "estar em bando". E olhe lá! Estar em bando é perigoso demais.
Talvez só o amor possa salvar tudo isso. Porque na minha opinião uma revolução de armas, uma revolução de violência é voltar no tempo. É regredir mentalmente, é regredir espiritualmente, é você ferir a alma do outro. E não tem nada mais cruel que isso. Então sinto que quando a revolução não vem do amor, quando não nasce genuinamente do amor... NADA.

Sinto que tudo que não vem disso é O grande problema do mundo.




(UM VAZIO ENORME)




Escuta esses pássaros....

O quê que há de repreensível nisso?

(Canto de passarinhos ao fundo).

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Padrão? Imagina.

A consciência de que em todo "amanhã oito horas" o bate bate começa. Minha vontade é de não dormir até tudo isso passar pois mesmo já sabendo de cor e salteado, sempre tomo um susto terrível: primeiro derrubam as paredes, depois trocam todo o sistema elétrico e tubulação e por último começam do começo, pedra por pedra, cimento em tudo. Esqueci de dizer que essa parte de assassinato em massa ou exterminação do que um dia foi pilar é a mais demorada. Há um certo sadismo que nem Freud explica. E se nem ele explica...quem sou eu para arriscar palpite?

Prometi Ser Mais Objetiva

Cheguei em casa como quem não quer mais.
Sua carta voltou.
Seu cheiro nunca foi.
A chave emperrou na porta e todo meu drama de carinho grátis.
Pouquíssima consideração.
Lógica menor ainda.
Cadeiras reservadas porém vazias.
Seu rosto em cada descuido.
Prometi ser mais objetiva:
Não quero mais saber de Para Roma Com Amor,
Paris na chuva e fora do tempo,
E até o Woody Allen caiu na censura.
Ana C nem de longe.
Perto nunca afora.
Agora.
Aqui e finalmente numa relatividade absurda!

domingo, 9 de junho de 2013

Me Marquei Como Sua

Pensei que seria simples e suave te deixar em stand by. Simples e suave coisa nenhuma! Não se ensina o arrepio.
A verdade é que eu queria te convidar para ir para outro espaço comigo, topas? Juro que não faltará espanto, não faltará estrada e que não restará vazio.
Euforia mi-li-me-tri-ca-men-te programada: um gosto de "mentos" de morango, ou de laranja ou de abacaxi mas nunca de limão, preso nas nossas bocas. Juntas se anulam. Juntas viram um único ponto florescente do Universo! Jazz clássico insubstituível...vamos dançar até os nossos joelhos pedirem arrêgo! E aí então, dançaremos com os olhos...só com os olhos, nossos cúmplices: toda nossa fé cênica timida e em sintonia doce...

Te marquei como cicatriz. Me marquei como sua.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Led Zeppelin - Since I've Been Loving You

Música não permite interrogação, o bom e velho rock n roll sabe muito bem de quem fala: pessoas que nunca param, nunca, nunca! Pessoas-correntes-perene. Pessoas de alma inquieta, de entrega plena, pessoas furacões, pessoas com a verdade estampada nos olhos, pessoas que precisam espalhar pro mundo todo!

sábado, 1 de junho de 2013

Sem Ponto Vírgula Exclamação E Muito Menos Interrogação

patafísicos engenheiros elétricos chefs franceses e figuras da mais alta e completa mafia rússia se encontraram para discutir esse último passo em busca do meu precipício ou da minha glória eterna voo alto sem paraquedas sem certeza mas com muita vontade compasso interior batida mixagem qualquer entusiasmo a importancia de sempre sempre sempre deixar um bilhete cartinha sem mais nem porquê

Never Look Back

Clarice já disse tudo.
Quem sou eu através do espelho:
esperanças retalhadas e proibidas,
aversão à inocência,
estranheza
e o dever de sempre seguir em frente.
Depois do vazio, mais vazio.
Cavar afetos,
cavar expectorante,
cavar interrupções.
NEVER LOOK BACK.

Aviso As Senhoras E Aos Senhores Que Sempre Haverá Saída

Aviso as senhoras e aos senhores que sempre haverá saída: seja no sorriso bobo e cúmplice do casal na beira da praia, seja no vendedor de algodão doce que aparece quando eu mais preciso.
Acredito na força da minha intuição de tal forma que não penso duas vezes. Se não viajei é porque não era hora, não era hoje, não era assim.
Perdi lareira, perdi aconchego, perdi a noite, perdi Nina Simone, perdi fondue, perdi os sete graus de Campos do Jordão e o que é pior...perdi a oportunidade de usar luvas performáticas vermelhas e de poliéster!
Mas posso dizer que ganhei uma noite insone, ganhei a certeza de que certas relações são sim eternas, ganhei o cuidado de alguém inusitado, ganhei o calor do corpinho de Bolô deitado nas minhas pernas, ganhei um dia carioca atípico, ganhei almoço vegan, ganhei família, ganhei andadinha na praia, ganhei olhares curiosos para minha bota em pleno calçadão, ganhei Zeca Pagodinho e a Verdade, ganhei algodão doce rosa e o que é melhor...ganhei "o porque" de morar nessa cidade (que cada vez me parecia mais e mais distante)!

No final das contas sempre é a gente que escolhe para onde olhar.