sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Leia isso rapidamente como Thérèse (a locomotiva a vapor)!

Quatro coisas importantíssimas:
1) Teus pequeninos olhos de tigre: "ótima pedra para situações de estresse e mudanças súbitas de humor". Li em qualquer site exotérico, sem precedentes ou sinais de lucidez.
2) O fato é que pretendo tacar molho shoyu e teriaki e te engolir demoradamente.
3) A gente devia mudar nossos nomes secretamente para Ellen e Tao e trocar cartas anônimas sobre qualquer besteira: as suas seriam geniais e as minhas previsíveis, visto que não se pode mudar a maré.
4) Truffaut pode ter escolhido "não justificar" Catherine. Talvez porque ele próprio já conheceu uma mulher como ela, a amou profundamente e sofreu mais profundamente ainda com seu temperamento. Mas no final das contas pode-se concluir que ele a amou sim. E não, não estou tomando as dores porque me identifico, também a acho mimada e insuportável...

"Afrouxar", ouviu?

Insistir em coisas não pressionáveis: teu argumento ríspido não é nada convidativo, espero que saiba. Entendo que vez ou outra se perde a paciência e a vontade que dá é de amarrar a teimosia com nós de marinheiro e só afrouxar quando se vê um resultado palpável, claro, límpido. Mas veja bem, quem poderá dizer que o teu oito não é o meu oitenta?
P A C I Ê N C I A

Pode aplicar sem medo

Aquela viagem muito louca que dá na gente: esticamos o braço, procuramos a veia mais resistente, fechamos os olhos e aplicamos a dose inteira sem pensar duas vezes. Queima por dentro, o delírio se instala e eufórica te digo que não posso mais viver sem. Uma fusão de raios coloridos me invade e parece não achar brecha: era preciso conhecer o produto desde o início, se afogar assim de vez só pode causar estragos. Mesmo que eu quisesse, o caminho agora é labirinto e as paredes pregam peças...vez ou outra penso achar a saída e bato com a cara numa grade invisível.
Risquei teu telefone da caderneta e não mais pretendo me expor de tal maneira que me faça parecer idiota. Sei da tua indiferença, sei que nenhum amor, absolutamente NENHUM, pode ser injetado assim na veia direta e sei também que a casa de tijolos é sempre a mais bonita. Dá mais trabalho, mas é a mais bonita.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Laura


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Laura tragava o seu cigarro com o desespero e a força de quem quer agarrar o mundo com a ponta dos dedos. Fraca, exausta de esperar o que aparentemente nunca vinha, ela prendia toda sua atenção nesses breves minutos de contemplação: em que ela sentia-se dona de tudo, possuidora da capacidade de realização das suas expectativas. Olhava cada pequeno universo à sua volta, recebia a brisa gelada que ia tomando conta da praça e percebia que o sol ia aos poucos se escondendo dela (para seu alívio) e como que sorrateira a noite chegava aflorando ainda mais seu íntimo: estava no seu estado de graça apesar de todo o desespero que escondia.
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Laura se levantou no susto, como quem foge de um pesadelo terrível, ainda desnorteada da noite agitada que tivera ali mesmo na sua cama tão conhecida: quem foi que disse que é preciso sair, conhecer pessoas, explorar novos ambientes para experimentar aventuras? Peripécia é dentro da gente. Ela olhava fixamente para o teto tentando lembrar em que momento exatamente ela havia adormecido...algumas coisas lhe vinham à cabeça: as tentativas frustradas de comunicação, o aperto no peito que sentira ao perceber que era humana demais e portanto impotente diante da vontade de controlar o que o outro sente ou deixa de sentir e finalmente a terrível constatação que a fez pronunciar em voz alta: “o mundo não gira ao meu redor”. Óbvia, paralisada, Laura percebeu que o Amanhã era por si só muito cruel. Amanhã ela teria que acordar e continuar com seu dia independente do que tivesse acontecido ontem. Não há folga para dor? “Se existe feriado pra tanta coisa besta, por que não deveria existir um dia (pelo menos) para deixar a dor escorrer do meu corpo sem ter que me preocupar com minha rotina tão previsível e ritmada?”. É, definitivamente o mundo não girava ao seu redor.
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Mallarmé invadindo

"Nada, nem os jardins dentro do olhar suspensos,
Impede o coração de submergir no mar".